segunda-feira, 16 de setembro de 2019

CEUB: um dos times mais pitorescos feitos pela fábrica em 1972

Eis um time que perseguia há anos. Seja bem-vindo originalmente o belíssimo e extinto CEUB, celulóides importados, reforço de peso da primeira edição da Brianezi para a minha série D. Acompanhe abaixo uma brilhante reportagem do saudoso clube candango produzida pelo site Trivela.
 
O Ceub de 1973 a 1975: 
O time universitário que chegou ao Brasileirão
por Emmanuel do Valle
Clubes de futebol profissionais originários de universidades e que preservam esse laço de origem no nome são comuns não só na América Latina (há no Chile, no Peru, na Venezuela, no México) como também na Europa (em Portugal, na Romênia, na Irlanda). No Brasil, entretanto, sempre foram raros, casos pontuais. Talvez o de maior expressão, chegando à elite do Campeonato Brasileiro, tenha sido o efêmero Ceub, de Brasília. Durante seus quatro anos de profissionalismo, no início da década de 1970, o time azul e amarelo disputou três edições do torneio nacional, mesclando jogadores rodados, até com passagem pela Seleção, à prata da casa, e conseguiu alguns grandes resultados. Sua trajetória é o tema de hoje em “Azarões Eternos”. 
Exemplar belo e ileso. Vieram com 'furinhos' no meio. Típicos da garotada nos anos 70. Segundo o antigo dono, esses furos eram comentados na fábrica Brianezi para os clientes executarem a fim de obterem uma melhor 'aerodinâmica' nos botões.
Placar 1987. Reparem que a revista mencionava o histórico clube candango na lista dos Brianezi
Primeira Edição dos clubes feitos pela Brianezi em 1972
As origens
Os campeonatos de futebol em Brasília começaram antes mesmo da inauguração da capital, em abril de 1960, reunindo clubes originados de construtoras, associações classistas e órgãos governamentais, como o Grêmio Brasiliense, o Cruzeiro, o Rabello e o DFL (Departamento de Força e Luz, ou “Defelê”, como era popularmente conhecido). Houve até mesmo um pioneiro período profissional, em meados da primeira década, que levou a alguns destes clubes a disputarem as fases regionais da Taça Brasil e que terminou por volta de 1967 com a falência dos poucos que ainda resistiam. Ao longo do período, o público foi minguando, o que levou a um retorno ao amadorismo.
Em fevereiro de 1971, foi a vez dos alunos e funcionários do Centro de Ensino Unificado de Brasília (Ceub) – universidade privada fundada dois anos antes – criarem um clube, que estreou no torneio amador da capital naquele mesmo ano. Na primeira participação ficou em terceiro, decidindo o título do ano seguinte com o Serviço Gráfico. Já em 1973, viria o passo mais ambicioso: ao saber que a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) pretendia ampliar o Campeonato Brasileiro de 26 para 40 clubes, possivelmente incluindo um representante do Distrito Federal, o Ceub se aproximou da entidade, pleiteando a vaga.
A CBD fez exigências: para disputar o Nacional, o Ceub precisava se profissionalizar, além de contar com um estádio com capacidade mínima exigida para mandar seus jogos. Assim foi feito: apesar de manter o nome, o clube se desligou administrativamente do centro universitário que o dera origem (ainda que a instituição mantivesse a ajuda financeira e cedesse bolsas de estudo aos atletas). Reformou e ampliou a toque de caixa o Estádio Edson Arantes do Nascimento, o Pelezão, que passou a receber até 40 mil pessoas. E para não fazer feio no Brasileiro, trouxe vários jogadores experientes do Sul e Sudeste.
Pronto para o Brasileiro de 1973
Para o gol, chegaram Rogério (ex-Grêmio) e Valdir (ex-Vasco). A defesa foi reforçada com os veteranos Rildo (ex-Botafogo, Santos e seleção brasileira da Copa de 1966) e Oldair (ex-Palmeiras, Vasco, Fluminense e capitão do Atlético Mineiro na conquista do título brasileiro de 1971), além do zagueiro Paulo Lumumba (ex-Bonsucesso e Flamengo). No meio, o volante Jadir (ex-Grêmio) atuaria à frente do setor defensivo. O ponta de lança era Cláudio Garcia (ex-Fluminense). E para a frente também vieram Dario (ex-América-MG, Palmeiras, Flamengo e Fluminense) e os ponteiros Tuca Ferretti (ex-Botafogo) e Xisté (ex-Palmeiras).
Aos nomes rodados, misturava-se a prata da casa, garotos de 17, 18 anos revelados pelo próprio clube que teriam então uma vitrine nacional. Eram os casos do zagueiro Emerson (filho do supervisor do clube), do talentoso meia Péricles (já um ídolo da torcida) e do ponteiro Marco Antônio (que mais tarde seria convocado pela seleção brasileira amadora para disputar o Torneio de Cannes). Ao longo do primeiro semestre de 1973, o time fez uma série de amistosos com grandes clubes do país para adquirir conjunto e experiência. Agora o único clube profissional do Distrito Federal, o Ceub passou a manter duas equipes: uma para o Campeonato Brasileiro e outra, amadora, para participar do torneio metropolitano.
Inicialmente, o time trabalhou sob o comando do técnico Marinho, demitido após pouco mais de 20 dias no cargo por desentendimentos com dirigentes. Para o Campeonato Brasileiro, chegaria o experiente e folclórico João Avelino. Entre a saída do primeiro e a contratação do segundo, Cláudio Garcia acumularia interinamente os cargos de jogador e treinador. A estreia no Campeonato Brasileiro viria numa tarde de sábado, 25 de agosto, contra o Botafogo diante de um Pelezão lotado. O jogo teve transmissão ao vivo para todo o Brasil pela TV Tupi e foi bem disputado, terminando num empate sem gols.
Naquele jogo, o Ceub entrou em campo com o time considerado titular: Rogério no gol, Oldair na lateral direita e Rildo na esquerda, postados mais defensivamente, Paulo Lumumba e Emerson como dupla de zaga, Jadir, Péricles e Cláudio Garcia no meio e Marco Antônio, Dario e Valmir (outra cria da base) no ataque. Pela transmissão, ainda em preto e branco, não foi possível notar as cores do novo time, mas o desenho da camisa – predominantemente azul, mas com as mangas listradas em azul e amarelo, além dos calções e meiões brancos - já chamava a atenção.
Vitórias marcantes sobre clubes grandes
Com o goleiro Valdir, arte do saudoso amigo Ale di Caprio, do Tribuna do Botão.
Em breve, o que se destacaria era a campanha: após o empate na estreia, os brasilienses perderam para o Coritiba fora por 2 a 1, mas se recuperaram batendo o Figueirense no Pelezão e, em seguida, obtendo seu primeiro triunfo marcante, diante do Cruzeiro. Em 5 de setembro, o time mineiro levou todos os seus craques – Raul, Nelinho, Perfumo, Piazza, Zé Carlos, Dirceu Lopes – ao Pelezão, mas não conseguiu furar a defesa do Ceub, com Oldair e Rildo fechando os espaços pelos lados e Jadir, pelo miolo, além de Péricles ganhando a batalha com Dirceu Lopes. Na etapa final, após suportar a pressão, os donos da casa marcaram aos 21 com Dario e aos 31 com Marco Antônio, conquistando uma vitória de 2 a 0 muito comemorada.
Após o resultado, entretanto, o Ceub começou uma sequência ruim, prejudicado pelas repetidas baixas no elenco (trazido para supri-las, o veterano zagueiro Roberto Dias, ex-São Paulo, acabou tendo passagem meteórica, de apenas quatro jogos). Embora continuasse a tirar pontos das equipes dos grandes centros (depois do 0 a 0 contra o Botafogo e a vitória sobre o Cruzeiro, os brasilienses também arrancaram um empate com o São Paulo e bateram o America do Rio), passou a decepcionar com derrotas para equipes do Nordeste, perdendo em casa para CRB, Moto Clube e Fortaleza. Este último revés provocou a demissão do técnico João Avelino, que saiu com o mesmo discurso dos jogadores: a equipe tinha ótimo potencial, mas vinha sofrendo uma maré de azar.
A falta de sorte continuou no jogo seguinte, derrota por 1 a 0 para o América Mineiro num gol contra do lateral Lauro. Novamente treinada por Cláudio Garcia – que agora encerrava definitivamente a carreira de jogador e iniciava a de técnico – a equipe teria nada menos que o Corinthians pela frente, três dias depois. Mesmo com a ausência de Rivelino, os paulistas eram francos favoritos e vinham em alta na competição, sustentando uma invencibilidade de dez partidas. Mas foi o Ceub quem abriu o placar com o atacante Juraci aos 37 do primeiro tempo. Na etapa final, o centroavante Roberto Miranda empatou para o Alvinegro aos 27, mas, quando já era certa a virada corintiana, Juraci marcou outra vez e deu a vitória aos brasilienses.
Embalado, o time conquistou sua única vitória fora de casa na partida seguinte, diante do Paysandu em Belém, outra vez com gol de Juraci (1 a 0). Ironicamente, o técnico do Papão era João Avelino, contratado dias depois de ser demitido pelos brasilienses. Divididos em dois grupos de 20 equipes no primeiro turno, os 40 clubes do Brasileiro foram redistribuídos em quatro grupos de dez para o returno. Nesta etapa, o Ceub fez ótima campanha no Pelezão, vencendo Comercial de Campo Grande, Paysandu (outra vez) e Moto Clube e empatando com Santa Cruz e Remo. Mas como visitante perdeu suas quatro partidas.
Na soma das duas fases, o Ceub terminou em 33º lugar, com oito vitórias, seis empates e 14 derrotas, sem chegar a sofrer nenhuma goleada. Embora não avançasse para a etapa seguinte, disputada pelos 20 melhores da fase classificatória, o balanço final foi favorável, com retrospecto aceitável para um estreante, especialmente em vista dos bons resultados diante dos clubes grandes. Na virada do ano, em fevereiro de 1974, o time de amadores conquistou o Campeonato Brasiliense de 1973, superando numa melhor de três partidas a equipe do Relações Exteriores. Foi o único título do clube no torneio.
1974: Casa nova, mas campanha fraca
Mantido pela CBD no Brasileiro para o torneio de 1974 (que começaria logo depois do encerramento da edição de 1973), o Ceub perdeu alguns de seus nomes experientes: o goleiro Rogério foi negociado com o America do Rio (no qual participaria de um time histórico, o que venceria a Taça Guanabara daquele ano), Jadir retornou ao futebol gaúcho e Paulo Lumumba encerrou a carreira – além de Cláudio Garcia, que agora, oficialmente, era apenas o técnico. Reserva no ano anterior, o ex-vascaíno Valdir assumiu a camisa 1, enquanto Pedro Pradera entrou na zaga no lugar de Lumumba.
Outra novidade foi o estádio. Durante aquele Brasileiro, o Ceub deixou o Pelezão e passou a atuar no mais novo palco da Capital Federal, o Estádio Governador Hélio Prates da Silveira (que futuramente seria renomeado Mané Garrincha). A inauguração do estádio aconteceu justamente na partida de estreia do Ceub no campeonato, contra o Corinthians, em 10 de março. Os paulistas tiveram sua revanche da derrota no Pelezão no ano anterior e venceram por 2 a 1, com dois gols de Vaguinho. Juraci, autor dos tentos da vitória brasiliense em 1973, descontou para os donos da casa.
Mesmo assim, a campanha na segunda participação no torneio nacional foi sensivelmente mais fraca. O Ceub venceu apenas três partidas (Fortaleza e Sport em casa e o Nacional em Manaus), mas seus resultados mais significativos foram os empates contra o Palmeiras e o São Paulo (o time também ficou na igualdade com Portuguesa, Santa Cruz, Goiás e o Operário de Campo Grande). Terminou numa modesta 37º posição entre 40 equipes, superando apenas Itabaiana, Avaí e CSA. O público também se afastou: no ranking das rendas, o clube ficou no mesmo 37º lugar, à frente dos Américas Mineiro e de Natal e do Olaria. 
Inauguração do Mané Garrincha 
1975: Excursão ao exterior e última campanha no nacional
Em fevereiro de 1975, João Avelino voltou ao comando da equipe, substituindo Aírton Nogueira, que passaria a ser seu auxiliar. E em maio, o Ceub embarcou numa extensa excursão pela Europa e norte da África, passando por Marrocos, Argélia, França, Iugoslávia e Espanha. Em meio a um desempenho oscilante, bastante comum neste tipo de empreitada, alguns dos resultados foram marcantes. Na França, a equipe brasiliense derrotou o Racing Strasbourg (2 a 0) jogando no Parc des Princes. E na Espanha, emendou triunfos sobre o Deportivo de La Coruña (2 a 0), o Betis (2 a 1) e o Tenerife (2 a 0).
No segundo semestre, para aquela que seria sua última participação no Brasileiro, a equipe ainda mantinha alguns bons valores feitos em casa, como Emerson, Péricles, Marco Antônio e o ponta Dinarte, mas também apresentava outros novos, como o goleiro Paulo Vitor (mais tarde campeão brasileiro e tri carioca pelo Fluminense, além de defender a seleção brasileira) e o ponta-direita Junior (que seguiria no ano seguinte para o Flamengo, onde seria chamado de Junior Brasília). Assim, as contratações chegaram em volume menor do que dois anos antes: os nomes mais destacados foram os do goleiro Jair Bragança (ex-reserva de Wendell no Botafogo, trazido por empréstimo) e um já veterano Fio “Maravilha”, ex-Flamengo.
Com o técnico Marinho retornando no lugar de Avelino, o time perdeu os dois primeiros jogos, em visitas ao Goiânia e ao Figueirense, ambas por 2 a 1, mas em seguida reagiu e fez campanha bastante consistente na primeira fase. O primeiro ponto veio ao segurar um empate contra o Grêmio (0 a 0) em pleno Olímpico, feito repetido diante da Portuguesa no Pacaembu (1 a 1). De volta ao Pelezão, vieram os primeiros triunfos: 2 a 1 sobre a Campinense, com gols de Marco Antônio e Fio, e 1 a 0 contra o Vitória, gol de Péricles.
A única derrota daquela sequência até o fim da primeira etapa veio em casa diante do Flamengo, no jogo que estabeleceu o recorde de público do Pelezão: mais de 41 mil torcedores viram os rubro-negros vencerem por 1 a 0, com tento marcado pelo ponteiro Luís Paulo. Nos quatro últimos jogos, o time foi buscar no fim um empate em 2 a 2 com o Sergipe em Aracaju e, em casa, derrotou o América de Natal por 2 a 1, empatou sem gols com um forte Santa Cruz (que seria semifinalista naquele ano) e, de novo, conseguiu um 2 a 2 com dois gols no fim diante do Santos. 
O desempenho equilibrado (três vitórias, cinco empates, três derrotas, 12 gols marcados e sofridos) não foi, entretanto, o suficiente para levar o Ceub a um dos grupos de vencedores na fase seguinte. Relegado à repescagem, o time até começou bem, vencendo a Desportiva e arrancando um empate contra o CSA em Maceió, mas decepcionou nos últimos jogos, perdendo em casa para Americano e Bahia e caindo com um 3 a 0 para o Náutico no Arruda, na despedida. Na classificação final, o time ocupou a 31ª posição.
1976: O fim do Ceub
Ironicamente, o ano de 1976, em que o Distrito Federal voltaria enfim a ter um campeonato profissional, também assistiu ao fim do Ceub. Tudo por conta de uma polêmica quanto à indicação do representante no Brasileirão daquele ano. No início da temporada, a CBD anunciou que a vaga no torneio nacional ficaria com o campeão do certame brasiliense, a ser iniciado em abril. O regulamento original previa que as oito equipes se enfrentassem em três turnos corridos, com os vencedores de cada etapa reunidos na fase final.
O Ceub começou com todo o gás: logo na estreia, sapecou 6 a 0 no Gama, conquistando o primeiro turno com seis vitórias e um empate em sete jogos. A primeira intervenção da CBD veio pouco antes do returno: a entidade exigia um encurtamento do torneio, para que o campeão fosse conhecido até 40 dias antes do início do Brasileiro. A etapa então foi reformulada, com as equipes divididas em dois grupos, com um jogo extra entre os vencedores para apontar o campeão do returno. E novamente deu Ceub, que, de acordo com o regulamento, levaria dois pontos extras para o terceiro e último turno.
Até que a CBD entrou novamente em cena, exigindo um novo encurtamento do calendário. Sem saber o que fazer, a Federação Metropolitana recebeu da entidade nacional a sugestão de suspender em caráter temporário o torneio regional e realizar, a toque de caixa, um torneio extra para apontar o participante do Brasileiro de 1976 (enquanto que o Campeonato Brasiliense, a ser retomado mais tarde a partir do terceiro turno, indicaria o representante no Brasileiro de 1977). O Brasília venceu o torneio extra, dando início uma guerra judicial nos bastidores que culminou com a perda da vaga no Brasileiro pelo Distrito Federal (seria repassada a São Paulo, que indicou a Ponte Preta).
Sentindo-se prejudicado – já que vinha em ótima situação no torneio regional, com chance até de levar a taça de modo antecipado, sem a necessidade de finais e, dessa forma, ser indicado para o Brasileiro – o Ceub se desinteressou pela disputa do terceiro turno do Campeonato Brasiliense, abandonando a competição e extinguindo seu departamento de futebol profissional. Seus resultados no torneio passaram então a ser desconsiderados, com os segundos colocados no primeiro e segundo turnos herdando a vaga no triangular final, ao lado do Brasília, vencedor da terceira etapa – e que conquistaria o título.
A partir daquele ano, o Brasília tomaria a hegemonia do futebol local, arrebanhando nomes criados no Ceub – como o goleiro Paulo Vítor, o meia Péricles e o técnico Cláudio Garcia – e vencendo sete dos nove campeonatos disputados até 1984. O Distrito Federal ainda assistiria a longos períodos vitoriosos do Gama (década de 1990 e início dos anos 2000) e do Brasiliense (do início dos anos 2000 em diante). Ambos chegariam a transpor sua força para o âmbito nacional, subindo divisões até a elite do Brasileirão e fazendo ótimas campanhas também na Copa do Brasil. Mas, bem antes deles, o Ceub, em sua curta trajetória, foi o grande desbravador, o primeiro a causar impacto no resto do país.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

A segunda fase da Brianezi intitulada 'duas faixas': 1977 a 1986

por Ricardo Bucci
Ah! Se pudéssemos voltar no tempo...
Caríssimos amigos, colecionadores e leitores de "Botões para Sempre". Não resisti à tentação de escrever um artigo e apresento-lhes um pouco da vibrante Brianezi, cuja empresa foi pioneira nos botões chamados "oficiais". Uma pena que a Brianezi encerrou sua linha de produção de botões, em dezembro de 2001, muito motivada pela pressão dos clubes frente ao uso de imagem dos escudinhos e pelo próprio enfraquecimento do futebol de botão por causa dos jogos eletrônicos.
Bons tempos àqueles que podíamos fazer um pedido a domicílio ou mesmo frequentar a lojinha da Brianezi, que se localizava na Av. Álvaro Ramos, na esquina de uma "viela" sem saída, no Belenzinho, em São Paulo.
Bons tempos que no fundo dessa lojinha rolava campeonatos disputadíssimos, onde pais e filhos tinham um só objetivo: se divertir.
Bons tempos onde tínhamos a chance de adquirir, em qualquer loja de esporte, um jogo de botão "oficial". Pela pesquisa que realizei no site 'Empresas do Brasil', Paulo Brianezi, fundador da marca, registrou o nascimento da fábrica em 17 de agosto de 1972. No livro "Botoníssimo - O livro do Futebol de Mesa", de Ubirajara Bueno, nos idos de 1972, o fundador Paulo logo depois de confeccionar botões de forma caseira, industrializa o processo, usando acetato de celulóide importado do Japão. Já os botões, do tipo "tampa de relógio", são decorados com escudos e bandeiras. O resultado? Bingo! Um jogo com acabamento impecável. No estojinho desfilavam monstros sagrados do futebol de uma época mais 'romântica', digamos. A bolinha de lã era novidade. As mesas - chamadas de campos oficiais -, (que eu cresci chamando de "tábua") lembravam estádios reais como uma Fonte Nova, Castelão ou Maracanã. As palhetas eram coloridas (verdadeiras relíquias se hoje encontradas) e davam mais emoção ao jogo. Mediam cerca de 52mm de diâmetro e eram macias e flexíveis.
Apresento-lhes abaixo um catálogo de times produzidos na fase áurea da Brianezi. Ninguém produziu tantos times como a Brianezi. A coleção é extensa. No final dos anos 70 e início dos 80, a Brianezi vendia cerca de 250 times nacionais, internacionais e seleções. O CEUB - Centro de Ensino Unificado de Brasília (DF) era um time caçula dos concorrentes do Campeonato Nacional de 1973. Tinha apenas dois anos de existência e era formado por jovens valores e "cobras" do passado como Rildo, Oldair e Lumumba. Seu treinador era João Avelino e, nas mesas da Brianezi, o time se destacava pelas suas cores coloridas azul e amarelo. Outras agremiações do DF feitas pela Brianezi era o Colombo, campeão candango de 1971, e o inusitado Carioca. No estado do Ceará, a Brianezi produzia um dos times mais simpáticos do Nordeste: o Calouros do Ar. O "Tremendão da Aerolândia", carinhosamente chamado pelos torcedores do Calouros, foi fundado em 1952. O nome foi dado em homenagem ao conjunto musical da Base Aérea de Fortaleza (CE) e aos aspirantes a oficiais aviadores que chegavam todos anos à Base.
Tive na década de 80, e agora com muito custo e espera, consegui achá-lo novamente, um dos times mais conhecidos do mundo: o Cosmos, time em que o Rei do Futebol, Pelé, encerrou sua magistral carreira. O nome do clube foi idealizado pelo inglês Clive Toye, o primeiro diretor do clube. A inspiração veio do New York Mets, time de beisebol. Foi também por sugestão de Toye, que as cores iniciais do Cosmos fossem o verde e amarelo, em homenagem ao Brasil de 1970, tri-campeão da Copa do Mundo. O verde e o amarelo permaneceram até 1974, quando foram alterados para o branco e o verde, que foi usado até 1979. A partir de 1980, as cores passaram a ser o branco e o azul. A Brianezi produzia em maior porcentagem na fábrica o Cosmos em "amarelo com faixas verdes". Porém, existiam outras versões de cores. Exemplo: podíamos achar três cores de botões para a ex-Alemanha Oriental (branca, vermelha e amarela) e assim por diante com outros times.
Depois adquiri bons times da Brianezi que ainda hoje dão trabalho a qualquer outro botão fabricado artesanalmente. São eles: Brasil CBD, de 1979 (a CBD reinou no país até esse ano); Internacional, de 1978, Flamengo, de 1979, Manchester United, de 1980, onde tínhamos o número 9 que eu comentava que era o 'melhor do mundo', no botão, pois ainda ele joga uma "barbaridade"; Guarani, de 1981, Corinthians, de 1982 e centenas de outros comprados já numa "terceira fase", no final da década de 80.
Porém, o primeiro a gente nunca esquece. No começo de 1977 aparecia em minha casa o primeiro "Brianezi", comprado pelo meu pai e que era do meu irmão mais velho. Tratava-se do Clube do Remo, um dos grandes times da região Norte. Ficávamos encantados com o estojinho, o goleiro (que estampava o distintivo do clube), feito de 'pedra', a palheta ou "batedor" (que era colorida e tinha o azul como cor marcante) e a bolinha, que, por incrível que pareça, também era revestida de lã azul e branca, ou seja, as cores do 'Leão Azul do Norte'.
Aproveito abaixo também para ilustrar um pouco esse artigo com fotos de alguns Brianezi. Fico aqui no aguardo de comentários dos meus leitores na expectativa de encontrar pessoas que possam contar um pouco de seus Brianezi, principalmente, daqueles jogos da segunda fase da empresa, que compreende a fase de 'ouro' da Brianezi, isto já na segunda metade dos anos 70 e início da de 80, cujos botões eram encontrados nas lojas com aquelas "duas faixas" típicas, em celulóide. E é justamente dessa época que posto essa lista, feita pela própria Brianezi, e que continha uma centena de times nacionais, internacionais e seleções. 

Lista dos times produzidos pela Brianezi do período 1977-1986:
A caixa típica da fábrica, com a rara seleção albanesa de minha coleção
Acima, o New York Cosmos, final dos anos 70 e abaixo, o Brasil CBD 1979 e Manchester United 1980 com o melhor JOGADOR DE TODOS OS TEMPOS DE MINHA COLEÇÃO, O ATACANTE NÚMERO 9.
Iugoslávia com faixa azul petróleo e goleiro de pedra amarelo

 Caixa típica dos 'duas faixas': ref. 06 no catálogo, com o escudo na lateral do estojo
Este Juventus da Mooca é seguramente o time mais ileso de minha coleção antiga. Nenhum risco, trinca, quebra, parece que foi fabricado ontem pela Brianezi. O goleiro de pedra, típico das primeiras gerações, que durou até esta época. A partir do final dos anos 80, a empresa optou por fazer goleiros sem os escudos dos clubes.
Palhetas coloridas e flexíveis: que durou até 1986
 Abaixo o raríssimo Piauí duas faixas:
 Acima, o Calouros do Ar, time que a Brianezi produzia.
O Nice da França: seguramente um dos mais difíceis times europeus da Brianezi de se encontrar.
Estados Unidos: segunda edição com o Porto Rico feito nos primórdios entre 1972-76
Brianezi produzidos entre 1987 até o fim do encerramento da linha, isto é, em 2001. Os de 1987 a 1996 são mais robustos e 'gordinhos'. Os de 1997 a 2001 são mais duros e rígidos.

O antológico UNIÃO BANDEIRANTE FEITO EM 1977

 A querida 'PATATIVA DO AGRESTE', O CENTRAL DA BRIANEZI
Acima, o primeiro time que apareceu em casa da Brianezi: o Clube do Remo de 1977

sábado, 7 de setembro de 2019

Edição de Luxo flexível: os botões mais raros da Brianezi

Botões 'duas faixas'. Botões com apenas escudo e número. Ou botões com artes mais elaboradas da camisa do time, da 3ª e última fase? Bom, em se tratando de raridade, todos estes modelos eram, desde que a Brianezi parou de fabricar suas relíquias, em dezembro de 2001. Mas, alguns botões foram fabricados de forma especial.
A diferença nos estojinhos era o berço das peças em tamanho maior, ou seja, de 50mm ou 5cm para abrigar os botões. Logicamente, o seu layout era diferente das caixas tradicionais de 42mm.
Conheça as diferenças e características dos botões intitulados "luxuosos" da Brianezi, que, segundo os colecionadores mais exigentes, eram os mais difíceis de serem encontrados. 
Ex-Alemanha Ocidental: relíquia em três faixas, no modelo luxo/ouro em 50mm
  
Artigo de Ricardo Bucci - Botões para Sempre

No fim da década de 70, mais precisamente em 1976-1977, quando a saudosa fábrica Brianezi começava a produzir os modelos com as famosas 'faixinhas', foi muito popular também no mercado os raros botões denominados de "Luxo". A determinada edição começou bem antes, no início das primeiras fornadas na fábrica, pois já nos primeiros catálogos de 1972 já era possível de visualizarmos esses botões que foram chamados e apelidados de 'grandes'. Duraram, aproximadamente, até o fim do ano de 1986, quando depois a fábrica começou a mudar o material dos botões.
Segundo consta em seu catálogo antigo, a Brianezi diferenciava estes produtos chamando-os de "Futebol de Luxo e Futebol Super Luxo", em 45mm, ou 50mm. O tamanho dos botões ficava por gosto do cliente. Muitas embalagens continham também, além do berço maior para abrigar os botões, uma trave, por serem especiais. Os modelos Luxo têm um diâmetro e altura maior, geralmente encontrados em 50mm, diferentes dos outros tipos convencionais da Brianezi que giravam em torno de 42mm. Isso permite chutes mais precisos de média e longa distância. Naturalmente faz com que o jogo, independente da superfície da mesa lisa (eucatex) ou MDF pintado, não sofra diferenças, inclusive no controle da bolinha.
A Brianezi possuía artes diferentes para a edição de Luxo. Muitos modelos apresentavam apenas símbolo e número, uma lembrança dos primeiros botões do começo dos anos 70 que Paulo Brianezi, fundador da marca, confeccionava na fábrica. Outros modelos, que eram mais verificados nos anos 80, tinham de dois a três círculos em volta dos botões. Até ficou uma marca para diferenciar os times luxuosos. Já os escudos eram em 'decalcomania', que saíam em água, os mesmos usados nos modelos com faixas. O material seguia o mesmo processo encontrado nas duas primeiras gerações da Brianezi. Ou seja, era fabricado com material flexível importado, principalmente vindo do Japão, quando a empresa começou a comprar seus primeiros celulóides em 1973. Segundo a opinião de alguns poucos colecionadores que admiram esses botões, por serem mais resistentes e maiores que outros modelos, normalmente você os encontra muito novos, sem trinca ou quebras. Além de serem maravilhosos, são fantásticos para cruzamentos na área e ótimos para desvios.
Este tipo de botão sempre foi mais difícil encontrá-lo. Por serem mais caros que os modelos 'duas faixas', apareciam somente na lojinha da fábrica Brianezi, onde ficavam em exposição na vitrine, ou em lojas de esportes muito sofisticadas. No Rio de Janeiro, por exemplo, encontrava um ou outro time, de vez em quando, na 'Sport´s Hawaí', no bairro Tijuca.
O catálogo antigo da Brianezi, na fase áurea da fábrica, que durou dez anos, de 1976 a 1986. Acima os produtos diferenciados e luxuosos como "Luxo" e "Seleção de Ouro".
Muitos times eram feitos sob encomenda ou que não estavam no catálogo, como este Borussia Mönchengladbach, da coleção de Alexandre Badolato. Série Luxo, 5cm.
O Bari, da Itália, com lembrança de apenas escudo e número. Time também fora dos catálogos da Brianezi e que eram feitos apenas para a Série Luxo. Botão de 45mm, do colecionador e músico Maurício Carrilho.
Seleção Saudita, de minha coleção: modelo 'duas faixas', com lentes grandes e Luxuosas, de tamanho 45mm.
Nos anos 80, a Brianezi passava a fabricar os modelos Luxo com dois ou três círculos em volta dos botões, como esta seleção Brasileira, de 1985. Imagem do livro "O Botoníssimo".
Mesmo modelo Luxo, com círculos. Aqui vemos o New York Cosmos, coleção pessoal do jornalista Sílvio Lancellotti, apaixonado pelos Brianezi.
O Tom Tomsk, Rússia, de minha coleção. Também com círculos, da edição de Luxo, 5cm de diâmetro. Nos meus campeonatos, o time russo tem já um esquema tático definido: muita marcação, defesa sólida, e no ataque por serem botões maiores, o chute é fortíssimo. Desliza muito bem por ser de celulóide importado, adora 'roubar' bolas perdidas e são ótimos nos escanteios.
NK Zagreb (ex-Iugoslávia, hoje Croácia). Luxo, 5cm.
Spartak Trnava (ex-Tchecoslováquia, hoje Eslováquia). Luxo, 5cm ou 50mm
O Modena, da Itália, time do saudoso Pavarotti. Outro fora do catálogo dos times internacionais. Botões em 45mm, da edição de Luxo, com os famosos círculos, do colecionador e músico carioca Maurício Carrilho.

Exemplos de 50mm em celulóide importado, mas com bandeiras de seleções, que apelidamos de 'bandeirão'.
CBD azul de 50mm
Série "Seleção de Ouro"

No catálogo, a série "Seleção de Ouro" contemplava os botões especiais feitos em celulóide, acrílico ou acetato importado. Sua embalagem verificada era porta-botões. O layout dos números (emoldurados através de um círculo) e a disposição das linhas, em torno de duas a três, de cada lado do escudo, foram feitos exclusivamente para esta coleção.
Uma seleção brasileira com escudo "CBD" de minha coleção.
Provavelmente produzido pela Brianezi no fim da década de 70, ou até 1979, data em que durou a antiga Confederação Brasileira de Desportos. Série 'Seleção de Ouro'. 5cm.

Acima 42mm também em Edição de Luxo, mais rara que de 50mm
São Bento de Sorocaba, 50mm, Série LUXO DA BRIANEZI. Time de minha coleção particular.
Itália 5.0CM. Celulóides puros e flexíveis.
Exemplares da EDIÇÃO DE OURO DA ARGENTINA, EM 51MM, ainda maior, DE MINHA COLEÇÃO.

Acompanhem o catálogo abaixo produzido pela saudosa Brianezi durante sua fase mais romântica e áurea, no final dos anos 70/inícios dos 80. As referências e os respectivos números também eram colados em forma de etiquetas no canto esquerdo, antes dos escudos dos clubes ou bandeiras das seleções.
Museu dos Botões Retrô mostra a diferença das siglas e o que significava Futebol de Luxo ou Futebol Acrílico Popular.
Até aqui tudo bem. Caixa rara verde. Portuguesa ilesa em tamanho de 50mm ou 5cm.
Tamanho dos berços maiores para abrigar as peças especiais e luxuosas da fábrica do Belenzinho...

Agora reparem na novidade...Poucos exemplares vinham com etiquetas no lado esquerdo. Ou descolavam, ou a fábrica por falta de tempo não colocava. Mas nos primeiros times feitos nos anos 70 ainda era possível identificarmos as raridades que a caixinha proporcionava.

Essa Referência 15, na verdade deveria ser colocada REFERÊNCIA 16. Um pequeno erro da fábrica.

Vejamos no catálogo abaixo:
Na referência 15 surge os seguintes dizeres: Futebol Popular em Acrílico 45mm, sem trave.
Na verdade essa Lusa seria referência 16: Futebol Popular em Acrílico 50mm, sem trave.

Diferenças entre Acrílico e Luxo
A fábrica colocava inicialmente as referências para os botonistas terem uma maior noção dos objetos que adquiríamos. Futebol Popular Acrílico, como o próprio nome sugere, era feito de material um pouco mais 'duro' que os celulóides flexíveis, mas ainda assim super maleáveis. Um acrílico que, na mesa, parece mais uma tampa de relógio antiga e bem 'molinha'. Já o Futebol de Luxo e na própria Seleção de Ouro, o cliente encontrava ou mandava encomendar na forma de celulóides (LUXO) ou também no caso dessa Lusa em Acrílico (POPULAR).
Esse Zagreb acima pertencia nas seguintes referências: Futebol de Luxo 50mm, 05 (na caixa com trave), 07 Futebol de luxo (com caixa sem trave) ou 20, na forma de encomenda na Seleção de Ouro.
Mixto 50mm da coleção particular de Alexandre Badolato
50mm do SSCP de Botões para Sempre

Antiga Alemanha Oriental, da coleção particular de Moacir Peres. 50mm com numeração sobreposta, o que dava um efeito de 'relevo'.

FRANCANA, 50mm, flexível, UMA DAS MAIORES MOSCAS BRANCAS FORA DE CATÁLOGO DA BRIANEZI

EDIÇÃO SUPER LUXO DO SPARTA PRAGA
EM 50MM
NA CAIXA PRESERVA E ILESA DESDE OS ANOS 70´S
COLEÇÃO DE BOTÕES PARA SEMPRE